sexta-feira, 9 de julho de 2010
A propósito dos motoristas do Estado...
Como resultado do acidente havido com a viatura oficial do secretário-geral da Segurança Interna, Mário Mendes, a justiça decidiu acusar o motorista como causador do acidente, dado não ter respeitado o sinal vermelho. Entretanto, algumas vozes (em geral, a comunicação social) procuram saber por que «carga-de-água» não foi, também, acusado o passageiro. Esta não é uma questão nova. Aqui, tal como em outros países, há uma espécie de impunidade adaptada às «altas individualidades» e respectivos motoristas, no cumprimento do código da estrada. E não só! Quem não viu já os batedores da PSP a escoltarem autocarrros dos grandes clubes de futebol nos dias dos jogos, entre o hotéis e os estádios? Tendo em conta as funções oficiais que exerci, tive alguma experiência em ser conduzido por motoristas do Estado que, a nível do MAI, são muitas vezes agentes da PSP e guardas da GNR, como era o caso. Normalmente, são pessoas educadas, prestáveis, excelentes condutores, mas... por vezes... mais «papistas-que-o-pápa»! Não é fácil fazer com que respeitem escrupulosamente as regras de trânsito, a menos que se esteja sempre «em-cima-deles». Há uma espécie de «código», que é produto da formação que recebem para conduzir e exercer funções de segurança às individualidades. Consta que o ex-Presidente, Jorge Sampaio, era uma das pessoas que não deixava os motoristas «pisarem-o-risco». Participei, julgo que em 2005, numa cerimónia oficial ao final da tarde, na Câmara Municipal de Évora, presidida por Jorge Sampaio, cujo tema era, exactamente a prevenção rodoviária. A deslocação do grupo onde eu estava inserido tinha como objectivo «matar-dois-coelhos-com-uma-cajadada», pelo que, posteriormente, fomos para outro local onde jantámos e reunimos com os presidentes e comandantes dos bombeiros do Distrito. Cerca da meia-noite regressámos a Lisboa. A auto-estrada não tinha trânsito, o meu «chefe» vinha a cabecear ao lado do motorista e este vinha um pouco «à-vara-larga», embora eu o tivesse avisado várias vezes. Subitamente, estávamos atrás da comitiva do PR, que teria jantado por aquelas bandas. Seriam uns quatro automóveis: um na frente, o do PR no meio, outro atrás e um quarto a par deste na faixa da esquerda. Quando nos aproximámos, os veículos de trás passaram a assinalar a marcha, mas a velocidade era a mesma. Naturalmente, nada mais podiamos fazer do que seguir atrás, deixando um intervalo razoável. O desespero do motorista - também, militar da GNR - foi impressionante! Parecia que lhe tinha acontecido qualquer coisa de mal. Refilou e barafustou «para-dentro», mas teve de reduzir para os 120 quilómetros por hora, que era a velocidade da comitiva presidencial. E sempre mal disposto, lá fez a viagem até à zona onde se podem escolher as pontes. A comitiva presidencial escolheu uma e o motorista do veículo onde eu ia, escolheu a outra. Isto tudo vem a propósito das declarações do tal professor universitário, Manuel Ramos, presidente da associação dos auto-mobilizados. Deste sempre, este senhor gosta de dar palpites e meter o «bedelho» em tudo, muitas das vezes sem relação directa com o trânsito. Ontem, lá foi a RTP1 perguntar-lhe (ou será ele que se oferece?) sobre o assunto. E ele - sapiente - sai-se a dizer que o acidente com Mário Mendes era muito mais grave do que aquele onde uma condutora passou o sinal vermelho e matou duas mulheres em cima da passadeira de peões, junto à Praça do Comércio! Não há «pachorra» para imbecilidades destas...
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