sábado, 15 de maio de 2010
Memórias da tropa (34): o desfile de braços caídos...
Era dia de festa em Mafra! Pelo menos para os altos comandos militares da Escola Prática de Infantaria, que tinham mais uma «fornada» de oficiais milicianos para colocar nas colónias. Todos os jovens tinham já o destino «traçado», a esmagadora maioria nos batalhões e companhias com destino ao «ultramar». Foi montada uma grande tribuna em frente ao Palácio. Sem armas, as companhias de «finalistas» formaram na avenida e ouviram-se os discursos da praxe. A certa altura, cada comandante de pelotão começou a distribuir pelos seus homens um par de passadeiras que os haveriam de distinguir como aspirantes a oficial miliciano. Em posição de sentido, recebiam o par de passadeiras, cumprimentavam o comandante de pelotão, passavam-nas para a mão esquerda e faziam continência. Chegada a sua vez, o Cadete colocou-se em sentido e recebeu o par de passadeiras. «Muitos parabéns!» disse o tenente. Retorquiu o Cadete: «Por isto, meu tenente, por favor, não brinque comigo!». O tenente que comandava o pelotão recebeu a resposta em silêncio e passou adiante. Era um oficial que se tinha revelado muito especial. Um líder que parecia compreender como ninguém a angustia daqueles jovens incorporados «à força», mesmo quando, naqueles infindáveis «passeios» pelo campo fora, os cadetes cantavam com a música do violino no telhado: «Ai, se eu fosse rico… se eu tivesse vinte contos para dar ao passador… pirava-me já para Paris… e nascia um desertor…»! Dizia-se que tinha escolhido a arma de infantaria sem hesitar, quando a maior parte dos alunos da Academia Militar procurava outras armas. Um ano depois, aquele tenente foi um dos mais jovens oficiais do quadro permanente do Exército a fazer parte do núcleo duro da Revolução de Abril. Hoje, é um dos mais antigos deputados da Assembleia da República. A festa terminou com o habitual desfile. Quando arrancou, à «boca pequena» os cadetes foram passando uns aos outros: «Ninguém levanta os braços!». E, naquele dia, um grupo de turistas japoneses de visita ao Palácio de Mafra, pôde assistir a um estranho desfile militar onde a maior parte dos braços se mantinha ao longo do corpo…
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