sexta-feira, 13 de novembro de 2009
Memórias da tropa (15): «bateu a asa»...
O Cadete recebeu guia de marcha para estar em Lamego no dia 3 de Janeiro de 1973. Infelizmente, não tinha sido eliminado nas provas para as operações especiais, mais por falta de pessoal qualificado, do que por boa prestação do Cadete, que bem se esforçou para demonstrar que «não tinha vida para aquilo». Chegou ao local de recepção já noite cerrada e gelada. Depois de ter sido obrigado a apresentar-se «como deve de ser» pelo aspirante de serviço, saindo e entrando aí umas seis vezes a bater as botas e a gritar cada vez mais alto: «Vossa Senhoria, meu aspirante, dá-me licença que me apresente?», o Cadete lá foi enfiado numa camioneta que transportou o grupo para o quartel de Penude, onde o frio gélido da noite apertava, principalmente quem estava habituado às temperaturas amenas do Estoril. Distribuídas as camas nas camaratas que pareciam feitas sob gelo, o Cadete lá estendeu os lençóis e os cobertores e tentou adormecer, já a madrugada ia alta. Às 6 da manhã, mal o calor do corpo tinha aquecido os lençóis, o Cadete e os companheiros foram acordados violentamente por uma marcha militar debitada no máximo de décibeis que a aparelhagem permitia. Com uma agravante: um dos altifalantes estava preso à parede mesmo por cima da cabeça do Cadete, que tinha ficado com a parte superior do beliche. Levantar, vestir, formar foi o que seguiu. Lavar, nem tanto, pois a água gelada nos canos não permitiu mais do que umas ténues abulações por parte dos jovens. Já na formatura, os cadetes e os soldados-instruendos (do curso de sargentos), começaram a ouvir nos altifalantes uma ordem insistente: «Atenção, soldado-instruendo Passarinho, deve comparecer imediatamente no comando de instrução». Esta ordem repetiu-se durante dois longos dias. Os cadetes e os soldados-instruendos, percebendo o que se passava, comentavam entre eles: «O Passarinho «bateu a asa»... Assim tinha sido. Por sorte, no terceiro dia, também o Cadete e outros dezanove felizardos foram recambiados para Mafra, alegadamente porque, por engano, havia pessoal a mais ... Mas o Passarinho, tanto quanto se soube, nunca mais lhe puseram a vista em cima...
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Sábado fim da manhã e tirei um bocado de tempo para ler com gosto e prazer mais uma Memória da Tropa... Aguardo por mais.
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