segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Memórias da tropa (16): os sapatos de pala...

O Alferes e um colega tinham ido tratar de assuntos à Cidade. De repente, o Alferes avistou uma patrulha da Polícia Militar e alertou o colega para colocar a boina na cabeça. Quando se aproximaram da patrulha, um cabo PM dirigiu-se ao Alferes, fez continência e disse: «Meu alferes, está fardado com sapatos de pala. Por favor, peço-lhe que aguarde um minuto pela chegada do meu oficial». Bonito serviço! De facto, o Alferes tinha calçado uns sapatos civis em vez dos sapatos «da ordem». Entretanto, junto ao resto da patrulha já estava «de espera» um furriel que também trazia uns sapatinhos fora do talhe militar. Fora, aliás, a sua recusa em aceitar a ordem de detenção dada por um menos graduado que levou à vinda do alferes PM ao local. O Alferes foi aproveitando os poucos minutos que restavam até à chegada do colega PM para ir dizendo «umas verdades» ao cabo, mas sem que este se «comovesse». Quando o outro chegou e saltou do jipe brandindo um pingalim feito de mola de aço, o subordinado fez-lhe o relatório sobre os «esperados». O alferes PM, do alto da sua estatura toda ela militarizada, virou-se para o Alferes e disse: «Está detido, suba para o jipe!» O Alferes, ainda, tentou ripostar: «Então, isto é assim, está detido e pronto?». Diz o outro com ar ameaçador: «Suba para o jipe senão é pior!». Na verdade, não há como um «bom argumento» para a obediência ser imediata. A caminho do quartel da companhia da PM (cujo emblema era uma cabeça de chefe índio...) outro furriel, de meias azuis, foi também «convidado» a viajar «de borla» no jipe. Resultado: uma espera infinita, uma transferência com guia de marcha para um quartel de infantaria, uma rabecada do comandante da tal infantaria e, finalmente, uma «fuga» proporcionada pelo oficial-de-dia, já de noite, escondido na viatura que ia buscar presos não se sabe onde...
Mas a aventura não acabou aqui. No outro dia, o Alferes (e os seus sapatinhos de pala...), regressou à unidade, a cerca de 50 quilómetros da Cidade, num transporte militar que parou a meio caminho, no Cacuaco, para a necessária «satisfação da goela». Ao sair do estabelecimento, o Alferes dá de caras com o seu comandante de batalhão: «Olá, está bom? Vai para o quartel? Eu dou-lhe boleia, é só ir à casa-de-banho num instante!» Bem tentou o Alferes safar-se daquela, pois se o tenente-coronel olhasse para baixo, estava o «caldo entornado». Mas, não teve sorte. Ou melhor, teve até muita sorte, pois, metido na parte de trás do Volkswagen ao lado do comandante, conseguiu encolher os pés de tal maneira, que o outro não deu por nada...

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