quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Memórias da tropa (6): os contratados

A Companhia estava em «instrução operacional» perto da Capital. Tinham chegado há poucos dias. Todos os cerca de 150 homens, «guiados» por um angolano de muita idade, iam «experimentar» o bem que faziam «os passeios de campo» no meio do capim. Claro está, perderam-se. Após uma noite de «luta contra os mosquitos» junto a um rio, tendo sido ouvido um tractor a trabalhar na outra margem, o Alferes e seis soldados atravessaram o curso de água a nado, vestidos, apenas, com a camisola interior, as calças e as botas, não sem antes terem sido «despejados» vários carregadores das G3 para, ingenuamente afastar os crocodilos (se lá estivessem...). Contacto feito com o homem do tractor, toda a Companhia passou o rio a nado, mesmo os que não sabiam nadar. Após uma ração de combate, a Companhia seguiu viagem, agora com um novo guia, fazendo muita força para que este conhecesse melhor as paragens. O Alferes fez todos os muitos quilómetros do caminho de «pernas abertas» devido às assaduras, com as calças novas descosidas e com a ajuda dos seus soldados, que o ajudaram a levar o equipamento individual. Ao anoitecer, chegaram a uma fazenda de bananas, quilómetros e quilómetros de bananeiras, todas alinhadas. Nas casas da fazenda foram recebidos pelo filho do dono e pela namorada, únicas pessoas que estavam na «casa grande». Por gentileza, os quatro oficiais (o quinto tinha desertado antes da saída de Lisboa...) jantaram com os jovens na sala principal. «Estilhaços de frango com atacadores», um manjar formidável, dadas as circunstâncias. Durante a refeição, entre outras, a conversa encaminhou-se para a fazenda, as bananas, o trabalho que lá se fazia e quem o fazia. Dizia o jovem que tinha várias centenas de contratados vindos do sul, os chamados bailundos. Quanto ganham? Perguntou um dos alferes. Vinte escudos por mês... respondeu o jovem. ?...interrogação geral. Sim, mas acaba por ser muito dinheiro, pois eles são muitos... De qualquer forma, é sempre dinheiro em caixa, pois, no dia do pagamento, assim que recebem, abrimos logo a cantina e eles deixam lá o dinheiro todo e ainda ficam a dever o dobro...

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