segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Memórias da tropa (7): a caminho do Sul...

A notícia tinha-se espalhado por todo o lado. Houve uma revolução em Lisboa! As coisas iam mudar para todos! No Colonato, os «contratados» que tratavam dos cafezáis, não mais de meia dúzia por Colono, decidiram partir. Eram do Sul, bailundos. A administração colonial obrigava-os a vir a «contrato» para o Norte, onde muitos morriam sem voltar à terra e à família. Foi assim, anos e anos. Grande agitação entre os Colonos. Reuniões com o administrador de Posto (funcionário da administração colonial, abaixo de administrador de Concelho). Reunião com o Capitão. Queriam que a tropa fosse atrás deles, que os obrigasse a voltar ao trabalho. Nada feito. O Capitão não cedeu. Se eles queriam ir embora, eram livres de o fazer. Então, os Colonos decidiram ameaçar. Se a tropa não fosse atrás dos «contratados», cortariam a energia, pois, o gerador de electricidade que abastecia o Colonato era «civil». Imediatamente, a Companhia passou a fazer guarda ao gerador, dia e noite. Ai de quem se aproximasse dele... Instalara-se a tensão entre Colonos e militares...

Poucos dias depois, calhou ao Alferes ir à cidade. Nos mais de cem quilómetros que iam do Colonato à capital de Distrito, a coluna de veículos militares passou por milhares de «contratados» das grandes fazendas próximas que, de um lado e outro da «estrada», andrajosamente vestidos, com uma trouxa na mão, rumavam ao Sul, a pé, mas com toda a convicção do mundo. As coisas já estavam a mudar...

1 comentário:

  1. Gosto de ler estas notas/histórias, ou devo antes chamar crónicas (?) da tropa. Eu e os do meu tempo sabemos pouco e mal sobre esta matéria. Já disse e repito, aliás, insisto... não podiam estes relatos e outros mais... ser postos em livro? É que se eu gosto deste jeito de contr as coisas, as demais pessoas também iriam gostar

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