quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Memórias da tropa (10): o acidente

Era domingo. Desde que todos estivessem «em casa», o domingo era passado como se deve passar um domingo: a descansar. Porém, algumas rotinas continuavam a fazer-se. Entre elas, ir à lenha, pois era com lenha que a cozinha funcionava. Parte do pelotão de serviço, sob o comando do sargento-de-dia, seguia na Berliet para fora do Colonato, a fim de recolher combustível. Ao passar numa ponte de madeira, esta cedeu e a viatura tombou para o riacho. Quando os oficiais foram avisados, o Alferes vestiu a primeira coisa que encontrou e, juntamente com o capitão, seguiu no jipe a toda a velocidade para o local do acidente, que era já a uns quilómetros do Colonato. O cenário que encontraram foi confrangedor. Mais de uma dezena de feridos, pernas e braços partidos. Sob o camião, dentro do riacho, um morto e um ferido grave - um primeiro-cabo do recrutamento local - preso pelas pernas, que só conseguia manter a cabeça fora de água com a ajuda de outro soldado, também ele com escoriações. O Alferes entrou na água, deu ordem ao soldado que saisse para ser socorrido e substituiu-o segurando o cabo por baixo das axilas, de modo a continuar com a cabeça de fora. Passados minutos, o militar expirava nos braços do Alferes...

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