terça-feira, 6 de outubro de 2009

Memórias da tropa (12): o Fernando...

O Fernando era um miúdo de 10 ou 11 anos, conhecido de toda a Companhia por ser muito vivaço e falador. Na bicha diária para recolher as sobras das travessas do refeitório dos soldados, era sempre o primeiro a apresentar-se com a sua lata de fiambre vazia. Em Dezembro de 1974, a Companhia ida ser substituída no Colonato, apenas, por um pelotão de militares que, com excepção do alferes, eram todos originários dos Açores. Na véspera da partida, o Alferes ficou encarregado de verificar as condições de transição da messe de oficiais que, em vez de seis, passava a ter somente um. O novo alferes tinha destacado como ordenança um soldado da ilha de S. Miguel, que falava com o sotaque micaelense mais cerrado que se possa imaginar. Junto à messe, o Alferes encontrou o micaelense a «enxotar» o Fernando com um pau, ao mesmo tempo que lhe chamava uma série de nomes feios. O que se passa? perguntou, enquanto o Fernando, insistente, se reaproximava dos dois. Meu alferes, este puto não me larga, por força que quer ajudar-me, mas eu não preciso de ajuda! retorquiu o soldado na sua pronúncia cerrada, olhando furioso para o miúdo. Repentinamente, com ar sargaz, o Fernando diz muito depressa na sua forma de falar angolana: Ó pá, fala português pr'á gente te perceber...

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