terça-feira, 13 de outubro de 2009

Memórias da tropa (13): os panfletos

Um dos «prémios» que a tropa dava aos oficiais milicianos que, por má classificação no curso, ficavam posicionados no 4.º pelotão das companhias mobilizadas para a guerra colonial, era terem de frequentar, durante seis semanas, em Tancos, o curso de minas e armadilhas. Assim, se morressem ao «tratar» de uma mina ou de uma armadilha, do mal o menos.
Naquela noite, após uma sessão de cinema, os aspirantes instruendos do curso voltavam aos alojamentos através de um estreito caminho com cerca de dois quilómetros, que separava as duas instalações militares. O caminho não tinha qualquer iluminação e muitos deles faziam-se acompanhar de pequenas lanternas a pilhas . O Aspirante tinha escolhido aquela ocasião para distribuir os panfletos contra a guerra colonial que tinha na sua posse pelos arbustos que ladeavam o carreiro, de modo a que, pela manhã, no regresso às aulas, os instruendos dessem por deles. Para isso, foi ficando para trás e parou, fingindo estar a urinar. Logo que os companheiros ficaram mais afastados, tirou os panfletos dos bolsos e começou a colocá-los bem visíveis nos arbustos. De repente, ouviu uma voz atrás de si: O que é isso, pá! Era um dos aspirantes que vinha mais atrasado. Assustado, o Aspirante mostrou um panfleto que iluminou com a lanterna. Ao ver do que se tratava, o outro retorquiu: Eu ajudo-te! E o Aspirante, respirando de alívio, pôde completar a tarefa com sucesso... De manhã, os militares ao lerem o que estava escrito, interrogavam-se como tinha aquilo vindo ali parar. Estavamos no início do verão de 1973...

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