domingo, 25 de abril de 2010

25 DE ABRIL, SEMPRE!

25 de Abril de 1974. Ao fim da tarde, os oficiais da Companhia aguardavam a hora de jantar, aproveitando para conversar e beber «umas e outras» sentados no alpendre da messe. De repente, o Unimog da ronda sobe a ladeira, pára junto à casa e um furriel do 4.º Pelotão, «equipado» com uma enorme telefonia de ondas curtas, diz meio alvoraçado para os outros: «Houve qualquer coisa em Lisboa! Parece uma revolta da tropa! Estão aqui a dar numas rádios estrangeiras!» Ficaram todos a tentar ouvir o que se dizia na rádio e, para melhorar a audição, alguém se lembrou que o Administrador de Posto (espécie de regedor lá nas colónias...), que morava ao lado, tinha um aparelho muito bom cuja audição costumava partilhar com os oficiais quando vinha beber café após o jantar. Grande euforia pela refeição dentro. Se nem todos tinham grande consciência política, de uma coisa estavam certos: não queriam estar ali! Entretanto, o capitão, via rádio, procurou saber se o Batalhão tinha conhecimento do evento. A resposta foi para se manterem calmos que no dia seguinte receberiam instruções. Embora eufórico e expectante, o Alferes acabou apreensivo, pois tinha viagem de férias marcada no dia 27 para a Cidade e voo para Lisboa no dia 29. No dia seguinte veio a instrução: todos os oficiais e sargentos disponíveis deveriam dirigir-se à sede do Batalhão para uma reunião com o comandante. Assim se fez. E qual foi o espanto de todos quando, a certa altura, a meio da reunião, diz o tenente-coronel: «Antes é que o comandante podia ser considerado um fascista, agora não, agora é um democrata como os outros». Pois, pois, haveria ali algum receio de que os acontecimentos o atingissem. E então, quando o alferes de administração militar (ou «padeiro», na gíria...) foi mandado apresentar em Luanda para trabalhar com a Comissão Coordenadora do Programa (do MFA) em Angola, é que foram elas! É que o comandante estava «sempre em cima» do alferes-padeiro, professor na Universidade de Coimbra, que estava na tropa com a classificação de «politicamente suspeito». Porém, nada aconteceu ao comandante, já falecido, mas que chegou a ser juíz do tribunal militar. Já o segundo comandante - um major - foi reformado compulsivamente por questões antigas. E as férias sempre se concretizaram. Já na Cidade, o Alferes conseguiu apanhar o primeiro avião que vinha de Moçambique para Lisboa, com escala em Luanda. Chegou a 30, ainda a tempo de ver o primeiro 1.ª de Maio em liberdade...

(Reedição de um post da série «memórias da tropa», publicado em 20NOV2009)

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