sexta-feira, 30 de abril de 2010
Memórias da tropa (33): a deserção...
Tinha chegado o «grande» dia! A tropa mandou o Mancebo apresentar-se no quartel das Caldas da Rainha durante a tarde do dia 12 de Outubro de 1972. Sem grande pressa, sozinho, o Mancebo juntou-se às centenas de pessoas, entre jovens e familiares, que aguardavam a sua vez à porta do quartel, na estrada principal do acesso sul à Cidade. Após uma espera de três horas, um graduado veio dar uma «nova». Naquele dia não havia mais entradas. Que viessem no dia seguinte logo de manhã. Que remédio teve o Mancebo senão pernoitar numa pensão. No outro dia tudo se compôs: admissão, preenchimento de papelada, distribuição de fardamentos e alojamento, primeiras instruções para seguir «à risca», inspecção médica, etc. Os jovens recrutas começavam a «experimentar» aquela coisa da tropa, das continências, das armas, das formaturas e, principalmente o que é «morar» numa caserna com mais de uma centena de beliches duplos. Havia quem mostrasse grande entusiasmo e ansiedade em «defender» a Pátria. Outros, porém, não estavam para «aí virados». Formaram-se grupos. «És de onde? É pá, então somos quase vizinhos…». O Mancebo cedo descobriu que tinha um «quase vizinho» com automóvel, morador no Linhó. Apurou, também, que um dos recrutas do pelotão era, nem mais nem menos, um jovem músico que pertencia a uma banda pop muito em voga. Era «vizinho» de Cascais. Rapidamente, combinaram-se as «excursões» de fim-de-semana. O carro trazia cinco jovens recrutas para casa. No regresso, às seis horas da manhã de segunda-feira, o instruendo-músico metia-se num táxi em Cascais. Passava pelo Monte Estoril e «apanhava» o Instruendo. No Linhó, deixavam o táxi e entravam no carro do «felizardo», direitos à Amadora, onde outros dois camaradas se juntavam ao grupo. O combustível era dividido pelos «passageiros». Aqueles três meses passaram a correr. Um dia, receberam um papel e instruções para escreverem as «especialidades» que desejavam. Que simpatia! O pior é que já tinha feito provas para ingresso no curso de oficial. Se fosse admitido, não havia hipótese: «atirador»! Mas, «quem não arrisca não petisca». Não custava nada tentar. O Instruendo escolheu as «especialidades» de «enfermeiro» (sempre era bombeiro, não é…), «foto-cine» (andava numa de cinema…) e «contabilidade e pagadorias» (área onde trabalhava antes da tropa o ter chamado…). Já o jovem músico contava poder ingressar no programa de rádio das Forças Armadas. Saiu a «fava»: ambos para «atiradores», sendo que o Instruendo iria para o curso de oficial, na modalidade de «operações especiais». Bonito! Entretanto, chegou o último fim-de-semana em casa antes do juramento de Bandeira. No domingo à noite, o jovem músico telefonou ao Instruendo: «Se amanhã eu não estiver aí à hora do costume, não te preocupes, apanha um táxi e segue para o Linhó!». O Instruendo percebeu logo. Várias vezes tinham discutido as hipóteses quanto a dizer «adeus à tropa»! No dia seguinte, não apareceu qualquer carro vindo de Cascais. O Instruendo correu à paragem de táxis perto de casa e iniciou a viagem de volta ao quartel. O jovem músico regressou de Inglaterra após o 25 de Abril. Foi obrigado a ingressar na tropa e a cumprir o tempo. É hoje um produtor musical bastante conhecido. Já passaram 38 anos e, por acaso, nunca mais se encontraram.
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QUASE QUE APOSTAVA QUE O MANCEBO É O TOZÉ BRITO. QUEM O ALVITRA É UM MANCEBO INCORPORADO NO RI 5 EM 9 DE OUTUBRO DE 1972 (1ª COMPANHIA).
ResponderEliminarNão! O Mancebo é o cartesiano! Mas, de facto, o outro protagonista, o jovem músico é! Estivemos na 2.ª companhia...
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