No início de Março de 1975, o MPLA e a FNLA tinham duas «delegações» na Vila. O responsável do MPLA dava pelo nome de «Triunfaremos». Era um jovem modesto, que procurava dar-se bem com a tropa portuguesa. A FNLA era chefiada pelo «Leopardo», um indivíduo cheio de «amarelos», sempre de óculos escuros, que gostava de se exibir nas ruas a altas velocidades, sempre com um séquito de seguidores armados até aos «dentes». Ao contrário do primeiro, passava pouco «cartão» aos militares portugueses.
Todos os sábados havia baile num recinto mesmo ao lado da messe de oficiais. Durante o dia, os altifalantes faziam-se ouvir a «altos berros», anunciando a festa. À hora do baile a música ouvia-se a «vários» quilómetros de distância. Cheio de boa vontade, o «animador cultural» não parava de gritar como se não tivesse microfone: «Camaradas do MPLA, dancem com as irmãs do FNLA! Irmãos do FNLA, vão buscar as camaradas do MPLA para dançar… Somos todos angolanos!». Escusado será dizer que a animação, com muita cerveja pelo meio, se estendia pela avenida fora. Naquela noite de sábado, mais uma vez, o Alferes estava sozinho na messe. Os restantes oficiais tinham ido passar o fim-de-semana à Capital, a escassos 50 quilómetros. Era um fim-de-semana especial: o último que iam passar em África! De repente, ouviu-se um enorme barulho característico de choque entre veículos. Uma mota, a alta velocidade, foi chocar com um automóvel estacionado à beira do passeio. Grande confusão! O pessoal do baile saiu para ver. A multidão, porém, não tardou a dispersar-se no meio de uma grande «maca», com empurrões, gritos e ameaças! Alegadamente, alguém terá «metido a mão» na namorada do «Leopardo». Os da FNLA armados, inclusive com metralhadoras de tripé, entrincheiraram-se entre os automóveis estacionados, nos quintais das casas e nas ombreiras das portas, enquanto o chefe procurava saber quem fora o do MPLA que se tinha metido com a namorada. No outro extremo da avenida, os do MPLA tomam, também, posições. Perante este cenário, o Alferes ordenou à tropa que se mantivesse em prontidão, sem sair do quartel, situado em frente à messe. A tensão era muita. «O Leopardo está louco e quer guerra!», disse «Triunfaremos». Responde o Alferes: «Nem penses que vou pôr a tropa no meio! Entende-te com ele! Daqui a dias vamos embora e vocês vão ficar por vossa conta!». Contrafeito, «Triunfaremos» foi falar com o outro. Naquele dia as coisas ficaram por ali. Mas, não tardou que a guerra civil se instalasse. Já em Portugal, o Alferes (ex) soube que «Triunfaremos», a quem oferecera todas as suas fardas de trabalho, tinha sido morto em combate…
quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010
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