quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Memórias da tropa (11): o dilagrama

A coluna tinha mais de 60 militares, entre eles dois alferes, e uma dezena de veículos Unimog 411 e 413 (o «burro do mato», como era conhecido...). Desde madrugada que tentavam progredir por uma «estrada» cheia de irregularidades devido às chuvas intensas. Ao subir uma colina, as rodas do lado direito de um dos veículos da rectaguarda resvalou para o enorme sulco aberto pelas águas e o «411» tombou de lado. Mal se aperceberam do perigo, os militares saltaram conforme puderam. A coluna parou para ver os estragos e resolver a situação. Subitamente, chamaram pelo Alferes que seguia nos veículos da frente. Na queda, um dilagrama tinha ficado danificado e em perigo de rebentar. O dilagrama era um dispositivo metálico aplicado no cano da espingarda G3 que disparava, com recurso a bala especial, uma granada de mão defensiva (que ao rebentar espalhava estilhaços metálicos). Para resultar, a cavilha de segurança da granada era retirada quando esta era colocada no dilagrama. Meu alferes, a granada do dilagrama pode saltar a qualquer momento, disse um dos militares. O Alferes meio apático de cansaço e furioso por mais aquele contratempo, dirigiu-se ao local onde jazia a espingarda com o dilagrama. Os restantes militares afastaram-se para uma distância segura, mas não tão longe que pudessem perder «pitada». O Alferes chamou o soldado-mecânico: Dá-me um pedaço de arame que tenhas na caixa da ferramenta. O soldado assim fez. Com o pedaço de arame na mão, o Alferes aproximou-se da espingarda, enquanto o pessoal procurava resguardar-se ainda mais. Rapidamente, pegou no dilagrama e enfiou o arame na granada de modo a servir de cavilha de segurança. Pronto, já está, agora vamos lá tratar mas é do carro. Aos poucos e poucos, os militares lá foram saindo dos seus abrigos improvisados para ver a «obra».
Inconsciência? «Cacimbo» a mais na cabeça? Nada disso. Afinal, na Companhia, o Alferes era o oficial especialista em minas e armadilhas...

1 comentário:

  1. Afinal pode-se saber se a proposta de uma colectânia com as Memórias da Tropa já está a ganhar forma?
    Quem escreve assim bem e tem tantas coisas para contar deve,aliás, quase tem a obrigaçao de as partilhar com os demais que, como eu, tanto tenho a aprender de um tempo do qual sei tão pouco.

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