Memórias da tropa (30): o regresso...

13 de Março de 1975. O dia foi bastante atarefado, a ansiedade superava qualquer outro estado de espírito! Finalmente, tinha chegado o dia tão esperado! Apesar do susto pelo que se tinha passado em Lisboa dois dias antes (o 11 de Março), a partida estava marcada para o princípio da noite. A ordem era para viajar «à civil»! O Alferes fez uma trouxa com a roupa militar (paga por ele) e ofereceu-a ao comandante do MPLA, o jovem «Triunfaremos». A meio da tarde, só com as malas de roupa e outros pertences pessoais, os militares da Companhia embarcaram nos camiões que os haviam de levar ao aeroporto. Tinham passado 17 longos meses sobre o dia em que chegaram a África. Em pé nas caixas dos camiões, os militares percorreram os últimos 50 quilómetros que os separavam do avião. E cantaram todo o caminho, incluíndo o avante camarada!, um dos «hinos» mais populares da época. E acenavam às populações que transitavam à beira da estrada, recebendo de muitos deles, como resposta, gestos como que a dizerem «...vai, vai-te embora...». Aterraram na Portela às 7 horas do dia seguinte. Muito frio e eles de manga curta. A pista estava repleta de militares armados. O pessoal da Companhia esperou dentro da aeronave pelos autocarros que nunca mais chegavam. De repente, alguém diz: «Vamos a pé, que o trajecto é curto...». Bem dito, bem feito! O pessoal começou a sair do avião com as bagagens de mão e, a pé, foi direito ao terminal militar de Figo Maduro. Recolha de bagagem, últimas verificações de papéis, recolha de amostras de fezes, despedidas rápidas e um papel com 15 dias de licença até ao final do mês. A tropa tinha acabado! Ao organizar o seu álbum de fotografias, o Alferes (ex) escreveu: «Felizmente, a minha geração foi a última a poder ter um álbum como este...»!