domingo, 28 de março de 2010

Memórias da tropa (31): a avioneta...

O dia estava calmo. O capitão tinha ido à Capital buscar os vencimentos e dois dos pelotões estavam fora numa operação. Após o almoço, o Alferes, que estava de oficial-de-dia, e os dois colegas que permaneciam no aquartelamento sentaram-se no terraço coberto da messe de oficiais a beber café e a pensar na vida, olhando sem qualquer intenção especial a imensidão verde da floresta. No céu, uma avioneta militar DO27 voava de um lado para o outro, como por vezes acontecia, se bem que já estivesse a sobrevoar o Colonato há mais tempo do que o normal. Subitamente, o unimog da ronda aproximou-se da messe a grande velocidade, transportando o sargento-de-dia e dois elementos da população. «Meu Alferes, parece que o avião disparou sobre um grupo de mulheres que ia na estrada do Toto, logo a seguir ao palmar...». O Alferes não queria acreditar no que ouvia. Os populares contaram a história, dizendo que a mulher tinha sido atingida na coxa quando a avioneta «picou» sobre o grupo que se deslocava para o trabalho nas lavras. Após ter dado as ordens necessárias, o Alferes e o alferes-médico dirigiram-se para o local indicado, a pouco mais de dois quilómetros. Lá estava uma mulher deitada no chão, rodeada de muitos populares e da tropa, a receber os primeiros socorros do cabo-enfermeiro de serviço. Imediatamente, constataram que não fora um tiro, mas sim algo que batera com toda a força na coxa esquerda da jovem mulher. Entretanto, a avioneta continuava a sobrevoar em círculos o local do ajuntamento, sem que respondesse às sucessivas chamadas via rádio. O que seria que tinha atingido a mulher com toda aquela força? Ainda por cima, por pouco, não causou uma tragédia, pois a mulher transportava uma criança às costas? O Alferes deu ordem para procurar algo de pudesse ter caído da avioneta e, rapidamente, encontrou-se um pedaço de chumbo em forma de tronco de cone, preso a uma espécie de manga de lona de pequenas dimensões. Era parte da antena da avioneta que se tinha desprendido. O Alferes fez sinal ao piloto para aterrar na pista, devolveu-lhe a peça, não sem antes lhe dizer um «par de coisas» a sério. Muitas desculpas para trás e para a frente, mas o furriel-piloto não tinha qualquer justificação para os voos picados que fez sobre a população. Uma brincadeira que poderia ter custado muito caro. Comunicado o caso superiormente, como não podia deixar de ser, o piloto ficou sem vontade de «brincar» durante bastante tempo...

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