A Companhia tinha três «funcionários» civis recrutados localmente: no «hospital» trabalhava como servente o senhor «Arnaldo» e na messe de oficiais, o «Carlos», um jovem com problemas de locomoção devido a paralisia infantil e o senhor «André», que teria uns quarenta anos de idade. O primeiro era o chefe tradicional da sanzala situada à direita entre o Colonato e a «pista» de aviação. O último era, também, chefe de uma minúscula sanzala, praticamente só de familiares, situada à saída do Colonato, na «estrada» para a sede do Batalhão. Nestas duas sanzalas praticava-se uma religião evangelista conhecida por Tocoísmo, fundada por Simão Toco, que veio a falecer nos Açores, para onde tinha sido deportado pelas autoridades coloniais. Havia, ainda, uma terceira sanzala, em frente à maior, denominada de «católica» por ser esta a religião praticada pelos seus habitantes, maioritariamente descendentes de bailundos do Sul de Angola que ali se tinham fixado. Entre bailundos e quiquongos seriam cerca de 2000 pessoas, mais as cerca de 100, entre portugueses e cabo-verdianos que habitavam o Colonato.
Em Dezembro de 1974 a Companhia foi rendida, apenas, por um pelotão de uma unidade recém chegada da «metrópole». O novo e único oficial decidiu que não seriam necessários dois serventes na messe de oficiais e despediu o mais velho, o senhor «André». Este ficou , naturalmente muito aflito, tanto mais que tinha duas bonitas filhas a estudar na cidade de Carmona (hoje, Uíge). Apressadamente, foi a sua casa buscar um papel que mostrou ao novo alferes. Mas, este mostrou-se irredutível com a decisão que havia tomado. Então, o «senhor André» procurou o Alferes, que estava de oficial-de-dia: «Meu Alferes, o novo alferes quer despedir-me, mas eu nada fiz de mal. Não compreendo por quê!» O Alferes não sabia o que havia de dizer perante a aflição do senhor «André»: «Sabe, não é que tenha feito qualquer coisa de errado. Mas ele só precisa de uma pessoa e optou pelo «Carlos» que tem aquele problema e, por isso, mais dificuldade em fazer outro tipo de trabalho!» Diz o outro: «Veja, por favor, este papel. Foi passado pelo Major F....., do outro Batalhão. Aí diz que eu sou bom patriota, um bom português...» O Alferes ficou de olhos e boca abertos. Afinal, o senhor «André» não estava a perceber o que se passava. O senhor «André» ainda não tinha interiorizado que o seu país caminhava rapidamente para a independência. «Olhe senhor «André», desculpe o que vou dizer, mas se fosse a si encondia esse papel. Guarde-o, se quiser, mas não o mostre por aí, pois pode vir a dar-lhe desgostos!» Mas o senhor «André» insistia com o «certificado». A sua aflição em perder o pouco dinheiro que ganhava todos os meses era tanta, que estava completamente bloquedo com a ideia de qualquer mudança...
sábado, 2 de janeiro de 2010
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