sábado, 23 de janeiro de 2010
Memórias da tropa (26): A Bandeira...
Em Dezembro de 1974, a Companhia deixou o Colonato e instalou-se a 49 km da Capital, na Fazenda Tentativa, cujo nome foi alterado após a independência para «Mártires do Caxito». Coube ao 4.º pelotão a tarefa de «ocupar» o posto de controlo da estrada Caxito-Ambriz, a uma dúzia de quilómetros, na Fazenda dos Libongos. Naturalmente, nesta data já não havia qualquer controlo rigoroso, pois, circulava-se sem restrições naquela estrada, incluíndo alguns grupos da FNLA, MPLA e UNITA. Curiosamente, o Alferes foi substituir um colega que era, também, de Cascais e que tinha acabado de fazer 27 meses de comissão. Logo nos primeiros dias foi convidado pelos donos da fazenda para um almoço de boas-vindas, que meteu «criados» em pé a olhar para os comensais e tudo... Não foi uma refeição particularmente descontraída, pois os proprietários resolveram desabafar as suas amarguras quanto ao seu futuro em África. Digamos que as relações entre os colonos e o Alferes ficaram por aí! Não havendo grandes preocupações operacionais, o pessoal que não estava de serviço passava grande parte dos dias nas praias próximas, a barra do Dande e a Pombala. Sim, estavam perto do mar e daquela água a temperaturas nunca «vistas» em Portugal! O Alferes e o 4.º pelotão passaram o Natal de 1974 e o alvorecer de 1975 naquele local, tendo regressado à sede da Companhia, agora instalada no Caxito, em meados de Janeiro. Entretanto, o Alferes entrou de licença e aproveitou para se deslocar à «metrópole» e casar. Quando voltou, o capitão chamou-o à parte: «O batalhão recebeu uma queixa feita pelo homem da fazenda, onde dizia que viu um dos seus soldados arrear a bandeira em cuecas...». Surpreso, diz o Alferes: «Nada sei disso, mas talvez tenha sido em fato de banho. E, agora?». Responde o capitão: «O comandante fartou-se de me chatear com a coisa, você não estava cá para eu falar consigo e, olhe, peço-lhe desculpa mas, só para não ouvir o comandante, acabei por lhe dar uma repreensão registada...». O Alferes ouviu, ficou calado por um momento e retorquiu: «Não se preocupe, capitão, não faz parte dos meus planos concorrer à GNR!»
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