sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Uma boa peça de reportagem...

Gostei de ver na SIC a reportagem sobre o Haiti. Os entrevistados, dois médicos que já tiveram responsabilidades intermédias no INEM e dois antigos técnicos da protecção civil, colocaram, mais uma vez, o «dedo na ferida» quanto à rapidez da resposta internacional em situações deste tipo, principalmente num país que não tem as condições básicas de acolhimento e orientação das forças que para lá são deslocadas. Conheço os intervenientes, aliás, os dois últimos trabalharam comigo mais de três anos. São pessoas que, com maior ou menor experiência, sabem do que estão a falar, em contraponto com as vozes menos avisadas que julgavam que isto da ajuda internacional era só estalar um dedo e... já está! Quando estive em Moçambique nas inundações de 2001, a missão perdeu mais de dois dias a tentar ir da Beira para Marromeu. O aeroporto estava literalmente «ocupado» por algumas ONG de «peso», como o Programa Alimentar Mundial, e eram estas que ditavam as regras, até que um coronel moçambicano, já de idade, possívelmente antigo guerrilheiro, colocou os «pontos nos is». No ano anterior, a ajuda americana tinha «ocupado» metade do aeroporto levando ao fecho do restaurante, que continuava encerrado em 2001. Sem meios de transporte, nem «peso» para os arranjar, valeu à missão outro militar moçambicano - um coronel da força aérea - que nos conseguiu fazer embarcar, primeiro, o pessoal num helicóptero pesado da FA moçambicana (só tinham dois...), um dia depois, as embarcações num aviocar sul-africano. Por último, embarquei eu e o meu adjunto (que está neste momento no Haiti), no mesmo helicóptero cheio de «imbambas», galinhas e tudo o que puderem imaginar... O que valeu foi a viagem de volta à Beira naquele enorme helicóptero só com os três moçambicanos e um russo da tripulação, eu e o meu adjunto da missão, a mais de 300 km/hora por cima da savana africana... Quando, finalmente, à noite, estavamos a dormir, recebemos uma chamada telefónica de Portugal: tinha caído a Ponte Entre-os-Rios...

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