quinta-feira, 14 de janeiro de 2010
Memórias da tropa (25): as pevides...
Nas sanzalas que existiam junto ao Colonato - a «católica» e as «tocoístas» - viviam algumas dezenas de raparigas jovens que, naturalmente despertavam os olhares dos militares, também eles jovens e afastados do seu meio ambiente, de onde parte deles, aliás, nunca tinha saído. Eram raparigas do campo, umas mais bonitas e mais elegantes que outras. As «tocoístas» eram mais reservadas e não passavam «grande cartão» aos militares. As «católicas», por seu lado, eram mais abertas com a tropa e algumas trabalhavam para os militares como lavadeiras. O interesse destes, porém, ia muito para além da roupa lavada, embora sem grande sucesso, pois, sendo uma comunidade pequena, todas elas «deitavam o olho» aos rapazes «tocoístas», dado que a possibilidade de escolha era, substancialmente maior. Pelo lado da tropa, as ordens eram para confraternizar com os naturais, mas dentro dos limites razoavelmente aceites, pois, não interessava ter a população revoltada com alguma atitude menos prudente. Chegou o Natal de 1973. O capitão e o alferes-médico, que tinham as famílias na Capital rumaram a Luanda. Os quatro restantes oficiais, jovens com idades não superiores a 23 anos, como nada tinham para fazer após o almoço, decidiram ir confraternizar pelas sanzalas. Na «católica» foram bebendo «umas e outras» e a tarde foi avançando. Chegaram, mesmo a tirar uma «foto de família» com algumas das jovens camponesas meio envergonhadas... E lá estavam a Madalena (crica fria, de alcunha), a Feliciana, a Maria, a Lurdes, a Graça, a Antónia, a Carolina e a Luisa. Esta era, sem dúvida, a favorita. Baixa, bem feita, uma cara engraçada, muito discreta e... casada. Trabalhava como lavadeira de três dos oficiais presentes. O Alferes era excepção, pois, o tratamento da sua roupa estava a cargo de uma habitante do Colonato, uma senhora transmontana. Entretanto, veio a noite e os oficiais não «descolavam». À tantas, a Luisa convidou os quatro a entrarem na sua casa, feita de adobe e chapas de zinco. Sentaram-se à conversa na sala de entrada, muito escura, praticamente sem luz. A Luisa ofereceu-lhes um prato com pevides descascadas. Nem se fizeram rogados e atiraram-se às pevides para ensopar as «umas e outras». Acabado o «petisco», a Luisa pegou no prato, virou-se para trás e disse qualquer coisa em quicongo. Do meio da escuridão surgiu uma mão que colocou mais pevides no prato. O Alferes, intrigado, sacou de uma pequena lanterna a pilhas e apontou para o canto da sala. «É a minha avó!», disse a Luisa. Os oficiais deram as boas noites à senhora e decidiram, imediatamente que estava na hora de regressar... É que, lá no seu canto escuro, o contributo da ansiã para a confraternização consistia em descancar as pevides utilizando os seus três únicos dentes...
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