quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Memórias da tropa (27): A recepção...

Um mês depois de terem chegado e completada a instrução operacional, a Companhia tomou rumo ao seu destino, situado a mais de 500 quilómetros a norte da Capital, embarcando os 150 militares numa coluna de camiões de carga civis, que se fizeram à estrada de madrugada para uma viagem com a duração previsível de 12 horas. Na maior parte dos troços daquela estrada principal a deslocação de veículos civis era acompanhada por uma escolta militar e a coluna que levava a Companhia ao seu destino não foi excepção. Após muitas horas a viajar em cima de malas, sacos e outras imbambas, já de noite, os militares chegaram ao local onde o alcatrão dava lugar à poeira da picada: a Vila do Songo. E faltavam, ainda, 60 quilómetros para chegar ao Colonato. Determinava quem podia, que a última escolta seria feita pelos militares estacionados naquela Vila. Porém, tendo anoitecido, o comandante da companhia do Songo recusou-se a ceder a escolta que permitiria aos «maçaricos» (gíria para novatos) chegar ao seu destino. Que não, que àquela hora era perigoso, que esperassem pela madrugada, e tal e tal. Mas se quisessem seguir que o fizessem, pois sempre eram 150 militares armados. O capitão recusou, alegando que não conhecia as paragens e que os outros tinham obrigação de os levar ao destino. Postos ao corrente, os alferes ficaram furiosos: «E agora, onde vamos nós alojar o pessoal?» perguntou o Alferes. Responde o capitão: «Deram-nos um armazém de café. Vamos ver se conseguimos levar o pessoal para lá…». Eram uns armazéns enormes, praticamente vazios. Aqui e além, uns montículos de grão de café que o pessoal aproveitou para fazer de «colchão». Não durou muito o descanso dos militares: o grão estava impregnado de pequenos insectos rastejantes que, rapidamente «invadiram» as roupas dos tropas! Toda a gente se levantou, sacudiu os bichos conforme pôde e correu para o exterior. Não, perigoso ou não, para ficar naquelas condições, era preferível arriscar fazer os quilómetros em falta… Acordados os motoristas, rapidamente foram dadas as ordens para que toda a gente embarcasse nos camiões! De repente, ouviu-se um grande alarido misturado com o ruído de três berliets. Era uma escolta especial, composta pelos militares que, no dia seguinte, deixavam o Colonato aos «maçaricos»! Visto que nunca mais apareciam, resolveram ir buscá-los… Uma berliet com metralhadora pesada, outra com pessoal já meio «tocado», mascarado com ligaduras a simular ferimentos e uma terceira disfarçada de carro de reportagem da RTP, com câmara de filmar feita de cartão e tudo… Meia volta e todos a caminho do Colonato por aquela picada onde predominava o pó e o capim. Embora o gerador de electricidade já estivesse desligado, a luz das velas e dos candeeiros a petróleo foi suficiente para abrilhantar o festim na messe de oficiais, no qual «reinaram» uma saladinha russa, uns filetes e, é claro, bebida q.b. que a sede era muita…

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