A Companhia estava há dois meses em África e ia fazer a primeira operação chamada de «intervenção». Calhou ao Alferes e ao seu pelotão. Cerca das 4 da manhã, o pelotão do Alferes e outro, de escolta, embarcaram nas Berliets que os iriam levar ao ponto de encontro com um terceiro grupo de combate de outra companhia, já com quase dois anos de comissão. Junta a tropa, levaram algumas horas a vencer os cerca de 150 quilómetros de distância até ao local onde seriam «largados». Desembarcaram na «base das máquinas», antigo acantonamento usado pelos militares. A partir daí, os cerca de 60 homens continuaram a pé, enquanto os veículos e o pelotão de escolta regressaram ao Colonato. O objectivo era marcar presença e, eventualmente entrar em confronto com os guerrilheiros, que tinham acampamentos na confluência de dois importantes rios. Progrediram em «bicha de pirilu». O Alferes à frente do seu pessoal e o alferes dos «mais velhos» atrás do respectivo pelotão. Caminhavam já há cerca de duas horas, quando o oficial«mais velho» apontou para uma estaca espetada junto ao trilho e chamou a atenção do Alferes: «Aqui morreu um soldado da companhia anterior à tua. Uma mina que, só por sorte não causou mais vítimas.». O Alferes olhou, engoliu em seco e continuou. Afinal, era a primeira vez que tinha contacto com a realidade da guerra. Já o «mais velho» tinha perdido três soldados ali bem perto, num ataque ao amanhecer. As três vítimas tinham dormido ao lado do alferes e, ao primeiro tiro, instintivamente, levantaram o tronco e foram atingidos mortalmente por uma rajada.
Chegados a uma elevação de onde se avistava um rio, através dos binóculos conseguiram vislumbrar na outra margem um acampamento feito de tradicionais «palhotas», rodeadas de bananeiras e outras culturas. Mas nem vivalma. Era sinal de que tinham dado pela presença da tropa. Por necessidade, decidiu-se enviar uma secção para recolher água no rio. O Alferes acompanhou um furriel «mais velho» e uma dúzia de soldados. Após uma descida de vinte minutos, mais complicada do que se estava à espera, o furriel disse: «Meu Alferes, a noite vai cair, entre a clareira e o rio há uma mata bastante fechada. O melhor é regressarmos.» Assim, se fez. E os 20 minutos da descida transformaram-se numa subida de hora e meia, já noite escura. Com pouca água para beber, preparou-se a dormida (...por que será que quando a água é pouca a sede aumenta?). Deitado no chão sob o poncho camuflado, o Alferes questionava-se sobre o mal que teria feito para, aos 22 anos, se encontrar naquele lugar a 15 dias do Natal... E chorou de raiva...
A noite não ficou por ali. De repente, à boa maneira tropical, a chuva começou a cair como «se não houvesse amanhã». De falta de água para beber, passou-se quase ao «dilúvio»... E até amanhecer, enregelados e ensopados, o Alferes e dois dos seus soldados entretiveram-se a contar anedotas sob uma «tenda» feita pelos três ponchos... O calor do dia seguinte haveria de secar tudo. Felizmente, a chuva quando caía era para todos.... guerrilheiros incluídos...
sábado, 19 de dezembro de 2009
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