domingo, 23 de agosto de 2009

Memórias da tropa (4): Deve ser paludismo...

Naquele tempo, Angola seria dos locais em África com mais médicos espalhados pelo território. Pudera, a «despesa» era, praticamente toda feita pelos médicos militares... No Colonato havia um «hospital», nome pomposo para um edifício com duas salas de enfermaria e meia-dúzia de outras dependências. O clínico de serviço todos os dias era o alferes médico. Os enfermeiros, o furriel e os quatros cabos com essa especialidade. Atendiam-se, não só os militares da Companhia, mas também os Colonos (cerca de cem) e a população autóctone (aí um milhar e meio). Todos os dias da semana havia consultas. Quando o médico, por qualquer razão, não estava, a consulta era feita pelo furriel enfermeiro. Naturalmente, a maior parte das queixas dos doentes referia-se a situações de paludismo (malária). Eram as febres e as dores no corpo. Naquele dia, na ausência do clínico, coube mais uma vez ao furriel enfermeiro atender os pacientes. As situações de paludismo eram tantas, que ele já quase nem levantava a cabeça do papel. A mãe camponesa entrou com o filho ao colo e sentou-se na cadeira. Então o que se passa? Perguntou o enfermeiro sem olhar para os «clientes». Menino está com muitas dores no corpo... Ah, isso é paludismo, vou dar-te uns comprimidos de resoquina que isso passa... Não - retorquiu a mãe aflita - foi um bidon que lhe passou ontem por cima...

1 comentário:

  1. Estas pequenas histórias do dia-a-dia mas em tempo de guerra e em lugar que alguns "gostavam" de chamar Províncias Ultramarinas (não sei se ria se chore), merecem ser lidas para que as pessoas saibam. Sugiro juntá-las, editá-las...um livro.

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